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Madmud

© Laurent-Paillier

Sinopse

Em ressonância direta com onironauta (2020), Madmud faz-nos mergulhar literalmente na esfera musical e poética de Tânia Carvalho. Através da voz e do piano, destila uma fluidez cativante, onde pairam ondas de melancolia e tumultos tenebrosos.

Madmud; “lama louca”, portanto. De onde vem este título?
Vem de uma sensação que tenho quando começo a cantar ao piano, que me faz pensar em elementos que vêm de longe, algo que vem da terra e, ao mesmo tempo, do meu próprio corpo. A imagem da lama diz-me algo em relação a esta sensação. Quanto a “mad”, gosto da sonoridade que cria com “mud”.

Conhecemo-la acima de tudo como coreógrafa. A sua relação com a música é mais recente; ou, pelo menos, foi mais recentemente que começou a mostrá-la em público… O que fez nascer Madmud?
Comecei a dançar cedo, aos cinco anos. O piano veio mais tarde. Mas, na minha família, a música esteve sempre muito presente, especialmente do lado do meu pai. Quando era pequena, acontecia frequentemente alguém tocar música (guitarra, bandolim, flauta…) e a minha irmã mais velha e eu cantarmos. […] Aos catorze anos, quis aprender piano. Comecei as aulas, mas rapidamente parei: não tinha um piano em casa – havia muitos instrumentos, mas nenhum piano. Foi apenas anos mais tarde, por volta de 2006, que comecei a ter aulas de novo, de forma intensiva mesmo.

E porquê o piano?
Há algo muito coreográfico, penso eu, na relação com este instrumento: não é preciso estar “corpo a corpo” com ele para tocar. Foi precisamente por isso que voltei a ter aulas de piano em 2006: para compor uma coreografia. Tive aulas para aprender a tocar uma sonata de Mozart. A partir dos movimentos necessários para interpretar esta peça ao piano, criei uma partitura coreográfica (o solo Uma lentidão que parece uma velocidade, 2007). Foi também nesta altura que comecei a improvisar ao piano e a compor música, a partir do corpo, de um impulso coreográfico, por assim dizer.

A voz está também muito presente nos seus concertos. É frequentemente comparada à de personalidades como Nina Hagen, Diamanda Galás ou Yma Sumac. Isto diz-lhe alguma coisa?
As pessoas que vêm aos meus concertos falam-me com frequência delas, é verdade. Mas não é uma “escolha” da minha parte. Não conhecia Diamanda Galás, por exemplo. Nina Hagen conheço bem, e é verdade que me marcou. Yma Sumac também, e Meredith Monk [compositora, cantora e coreógrafa americana que remonta aos anos 60]. Há uma força nas suas vozes. Elas também cantam com o corpo todo, e até mais: cantam com a energia do mundo, ou algo do género… Não ousaria dizer que me pareço com elas, mas inspiram-me. […] Quando canto, sinto qualquer coisa a vir a mim, emoções que me atravessam. Alguns artistas dizem que são um veículo. Quando canto e toco piano, tenho uma sensação parecida com essa.

Entrevista de Olivier Hespel para o festival Uzès Danse 2021

Ficha Artística e Técnica

Categorias:

interpretação (voz, piano): Tânia Carvalho
técnico de som: Juan Mesquita
produção: Tânia Carvalho, agência 25